Chamou-me a atenção um dia desses quando estava conversando com uns amigos pelo computador via msn, e um deles me enviou um link de um vídeo do youtube (http://www.youtube.com/watch?v=xRbYtxHayXo). Pois bem, após o vídeo ter sido carregado assisti àquela cena, que a meu ver parecia ser de um programa cômico na Inglaterra. O programa era na Inglaterra, mas nada cômico e sim um programa de caça-talentos com pessoas desempregadas sob o título de Britains´s Got Talent (Britânicos tem talento). Logo aparece a nossa estrela, Susan Boyle, uma mulher de 48 anos, que vivia com seu gato em um pequeno vilarejo da Escócia e que nunca havia beijado um homem. A primeira impressão causada por sua imagem é a menos vendida pela mídia, pois Susan é uma mulher pouco atraente, gordinha e de 48 anos, que canta desde os doze anos de idade e quer mostrar que tem talento para estar ali. Após ter sido apresentada pelos jurados, os deboches e risadas foram o auge da situação, inclusive por parte dos próprios jurados do programa que neste caso eram três. O sonho de Susan sempre foi ser cantora, mas nunca havia tido uma chance e quando ficou desempregada resolveu inscrever-se neste programa de caça-talentos. Ao anunciar que a canção que iria interpretar era I dreamed a dream do musical Los Miserables, a reação de todos foi de reprovação, exclusão e deboche, pois ninguém achava que aquela senhora de 48 anos, que nunca havia se casado e que morava num vilarejo com seu gato teria condições suficientes para interpretar tal obra. A música havia começado e a expectativa de todos era o fracasso total, mas quando a cantora executou a primeira nota da canção, a platéia entrou em alvoroço e ficou estática com a imponência gerada pela voz maravilhosa daquela senhora, até então desprezada por todos, inclusive por muitos dos que assistiam ao vídeo em suas casas. A situação ficou ainda mais tocante quando Susan viu que havia conquistado uma reação contrária e não se abalou, cantou com uma firmeza e disposição que lhe rendeu o controle total do choque emocional gerado no início da apresentação.
Chegara a vez dos jurados Amanda Holden, Piers Morgan e Simon Cowell darem seu conceito (S para sim e N para não) e um comentário referente à performance. Todos deram um Sim, constatando que a desempregada Susan tinha muito talento, e o comentário de Amanda Holden foi célebre e realista: “Eu honestamente penso que fomos todos cínicos, e este foi o maior sinal de alerta de todos. Só quero dizer que foi um privilégio ouvir isso. Foi brilhante.” Piers também falou “Todos riram de você. Ninguém está rindo agora. Susan realmente chegou lá sabendo que iria arrebentar tudo como ela mesmo havia falado minutos antes deste choque cultural. A mensagem que este caso nos traz é que devemos ser menos arrogantes e deixar de lado a primeira impressão a respeito de uma pessoa. Se todos fossem julgá-la pela aparência, certamente ela sofreria a exclusão social, que é o que devemos mudar. Temos que deixar de ser opressores, tal qual como Paulo Freire diz em seu livro a pedagogia do oprimido.
Esta exclusão não se dá só pela aparência não. E os deficientes visuais, auditivos, ou outros portadores de deficiências? Será que eles são aceitos como normais pelas próprias pessoas normais? Será que nada temos a aprender com eles? Somos tão superiores assim a eles? São perguntas que me faço todos os dias que me deparo com situações parecidas, onde nos deparamos com outras “Susan Boyle”, que em seu exterior não possui uma imagem adequada conforme a sociedade nos impõe, mas em seu interior possui um talento que muitas pessoas de padrões aceitos atualmente não tem. Quando vamos começar a olhar a cultura e a sociedade com outros óculos além daqueles que temos atualmente? Torno a citar Paulo Freire, porque em seu âmbito de leituras e publicações nos fala da desumanização, que não é apenas fato para os que têm a humanidade roubada. Negarmos os direitos das pessoas sob formas de exclusão é uma forma clara de desumanização e isto não deve ser mais aceito nos dias de hoje. A educação é a chave para o triunfo da formação do ser e para a aceitação de tudo aquilo que o difere. Quis fazer uso do vídeo de Susan Boyle como exemplo, porque este tipo de visão que ocorre dentro de cada um quando assiste algo assim, é o de repulsa, ou deboche tal qual pessoas lhe fizeram no auditório do programa, e isto devemos mudar para diminuir e por fim acabar com a exclusão e o preconceito ao diferente de nós mesmos.
Por Juliano Barcelos Henning
Graduado em música e pós graduando em
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